Conhecemo-nos no
voltear da vida, nos arredores do mundo, nos entrefolhos dos lençóis coloridos,
conduzidos pela febre das técnicas virtuais.
E foi através desses
canais modernos de comunicação e relacionamento, que esgrimimos argumentos,
batalhámos nas ideias, localizamos pecados e virtudes, até que o nosso desejar,
o nosso pulsar das entranhas, se libertou, e aí, nosso conhecimento virtual,
passou a tomar formas físicas, ideias e desejos mais acesos, acalorados, com vontades
muitas das vezes concretizadas, num cruzar de gestos e de posições, que nossos
olhares bebiam através das webcam, dos olhos mágicos do tempo moderno, dos
sentidos mais distantes, dos desejos cruzados e por vezes escondidos.
Mas faltava-nos o
melhor, o sugar dos cheiros, o passear pelos entre-folhos dos corpos, o palrar
das vozes que fazem de nós, simples mortais, carnais, vivos e carentes, homens
e mulheres sequiosos do bem-querer, do bem-amar, do bem-sentir, correr, dentro
de nós, a seiva do transe, do tesão, do eriçar dos pelos púbicos e não só.
E foi então, que
numa noite de maior desprendimento e calor, que nos corria pelo corpo acima e
abaixo, que subia e descia num turbilhão de amontoados escombros pelas veias, pelas
dumas de teu ventre, de teu peito, que a decisão foi tomada: tua fortaleza
protetora, tua lura adestrada, tua volúpia, tua caverna de prazer, seria
invadida por este senhor, teu senhor, teu cavaleiro, teu servo apesar das
honrarias, que desceria até teu reino, teu castelo de núpcias, teu reduto de
prazer, e ambos, tomaríamos de assalto esse devasto corpo, esse anarca do desejo,
esse teu e meu pular de tesão, e abafaríamos, com beijos, abraços e penetrações
pelos rios do amor, a fome de teu, de nosso, desejo.